
12 Fevereiro 2025
DOGE chega e
Pentágono corre.
Com a equipe de cortes de custos de Elon Musk prestes a chegar, líderes militares analisam contratos inflados, programas e sistemas de armas ultrapassados.
O DOGE está a caminho do Departamento de Defesa.
Depois de já ter feito cortes drásticos em diversas agências federais e causado pânico em outras, funcionários do Departamento de Eficiência Governamental de Elon Musk devem desembarcar no Pentágono nos próximos dias, segundo uma fonte informada sobre o assunto disse à Forbes. Com a missão de reduzir US$ 2 trilhões do orçamento federal, a chegada deles pode causar uma reviravolta sem precedentes nas forças armadas dos EUA e no seu orçamento de quase US$ 1 trilhão.
Por décadas, parlamentares de ambos os partidos tentaram – sem muito sucesso – conter os gastos excessivos do setor de defesa. O Pentágono já foi alvo de diversas denúncias de desperdício absurdo de dinheiro, incluindo milhões de dólares em inventário não rastreado, auditorias fracassadas e até o infame caso dos assentos sanitários de US$ 10 mil. Em uma entrevista durante o Super Bowl no último domingo, o presidente Donald Trump afirmou que espera que a revisão do DOGE nas forças armadas revele “centenas de bilhões de dólares em fraudes e desperdícios”.
Mesmo com desafios legais e a forte oposição dos democratas, a equipe de cortes de custos de Elon Musk tem o apoio do secretário de Defesa, Pete Hegseth. “Tenho conversado com Elon Musk, que é um grande patriota interessado em impulsionar a agenda America First”, disse ele à Fox News na última terça-feira. “Existem muitos setores onde queremos o olhar atento do DOGE, mas faremos isso de forma coordenada.”
Hegseth afirmou que os cortes devem se concentrar na aquisição de armas, programas relacionados ao clima e na redução de pessoal nos quartéis-generais. Segundo uma fonte com conhecimento direto do plano, os funcionários do DOGE serão contratados diretamente pelo Departamento de Defesa para se dedicar exclusivamente à missão de reduzir custos.
“Agora a conta chegou.”
Chris Miller, ex-secretário de Defesa interino
Antes mesmo da chegada do DOGE, líderes do Pentágono já começaram a avaliar cortes em iniciativas antigas. Entre as medidas em discussão estão a redução de programas de caças – um alvo frequente de Elon Musk, que já chamou o projeto do F-35 de “obsoleto” –, a suspensão de novos contratos e a fusão de diferentes operações, de acordo com uma dúzia de atuais e ex-funcionários do Pentágono e outras fontes consultadas pela Forbes.
“O ecossistema atual de grandes contratantes e figuras da Guerra Fria sabia o que estava por vir e optou por ignorar”, disse Chris Miller, ex-secretário de Defesa interino e coautor do Projeto 2025, o plano conservador para um novo governo Trump. “Agora a conta chegou.”
A Força Aérea, por exemplo, pode enfrentar mudanças significativas ao tentar manter os investimentos em aeronaves tripuladas em meio à crescente importância dos drones. Na semana passada, Hegseth suspendeu reuniões de planejamento para uma reestruturação voltada ao combate à China, que incluía o desenvolvimento de um caça de sexta geração. Qualquer corte no programa pode gerar incertezas sobre o futuro da aviação de combate tripulada, especialmente após o governo ter fechado contratos bilionários com a General Electric e a Pratt & Whitney para o desenvolvimento de novos motores para esse jato.
O Pentágono e a Casa Branca, que está gerenciando a comunicação do DOGE, se recusaram a comentar o assunto. A Força Aérea também não respondeu aos pedidos de esclarecimento.
Líderes do Pentágono também avaliam fundir três órgãos focados no desenvolvimento de novas tecnologias: a Unidade de Inovação em Defesa (DIU), o Escritório de Inteligência Artificial e Digital (CDAO) e o Escritório de Capacidades Estratégicas, segundo três fontes. Várias delas afirmaram que essa fusão pode levar ao fechamento do Serviço Digital de Defesa, um programa que busca trazer talentos do setor privado para o governo e que atualmente é administrado pelo CDAO.
“Unir essas organizações cria uma oportunidade única para alinhar os esforços de inovação com metas claras e unificadas, que podem fortalecer diretamente a segurança nacional”, disse Tyler Sweatt, CEO da startup Second Front, que auxilia empresas a acessar redes militares e recebe financiamento da DIU, cujo orçamento anual gira em torno de US$ 1 bilhão.
O futuro do maior programa do CDAO também é incerto. Nesta semana, autoridades suspenderam uma licitação para um dos principais sistemas de inteligência artificial do Pentágono usados para tomar decisões em campo de batalha, conhecido como ADVANA (uma abreviação de Advanced Analytics), segundo uma fonte do Pentágono. A empresa Booz Allen havia recebido um contrato de US$ 3,2 bilhões por três anos para administrar o ADVANA em 2021, mas a nova concorrência que transformaria o contrato em um acordo de US$ 15 bilhões por 10 anos foi interrompida. A Booz Allen se recusou a comentar.
Parte da estratégia de Hegseth envolve uma aproximação com o Vale do Silício. Na semana passada, ele se reuniu com Alexandr Wang, CEO da startup de IA ScaleAI, segundo duas fontes com conhecimento do encontro. A ScaleAI possui pelo menos US$ 300 milhões em contratos com o governo federal para serviços de rotulagem de dados. (A ScaleAI não comentou sobre a reunião.)
Wang também esteve entre um grupo de líderes das principais empresas de tecnologia de defesa do Vale do Silício — incluindo Anduril, Palantir, OpenAI e Vannevar Labs — que participaram de um importante evento sobre IA militar na semana passada. O evento foi organizado pelo Comando Indo-Pacífico, responsável pelas forças militares dos EUA na região, segundo uma lista de participantes vista pela Forbes. Empresas como Amazon, Microsoft e Google também estavam presentes.
E pelo menos um executivo de tecnologia está se juntando ao Departamento de Defesa. Emil Michael, ex-executivo da Uber, foi nomeado por Trump como subsecretário de defesa para pesquisa e engenharia, onde supervisionará a renomada Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa (DARPA), que tem um orçamento discricionário de US$ 4 bilhões para desenvolver tecnologias militares. Anunciando sua nomeação, Trump afirmou que Michael garantirá que os militares dos EUA tenham "as armas tecnologicamente mais sofisticadas do mundo, enquanto economiza MUITO dinheiro para os contribuintes."
Embora haja discussões sobre abandonar sistemas de armas caros em favor de drones de baixo custo, grandes contratantes ainda podem se beneficiar de algumas iniciativas de Hegseth. Por exemplo, o ‘Domo de Ferro’ de Trump, um plano para criar um novo sistema de defesa contra mísseis hipersônicos e de cruzeiro, pode direcionar bilhões para empresas como Lockheed Martin e RTX. “Agora podemos derrubar mísseis de cruzeiro com lasers, e isso pode ser parte da solução”, disse Jim Taiclet, CEO da Lockheed, a analistas na semana passada. “Apoio os esforços do DOGE e da administração para reduzir a burocracia.”